Diga-nos mais sobre o desafio do projeto. Qual é o problema que você está tentando resolver? Porque é que o problema é significativo?

A libertação de animais selvagens reabilitados responde a uma demanda do governo brasileiro, por intermédio de Centros de Triagem de Animais Silvestres CETAS/IBAMA, que envolve manejo controlado visando a reabilitação de indivíduos e posterior libertação em áreas conservadas. Por outro lado, muitas das espécies reabilitadas são espécies vulneráveis ou ameaçadas de extinção, cujas populações estão em franco declínio. Assim, para além de se reforçar a população dessa espécie na área de libertação, está-se a reparar um dano injusto causado a esse indivíduo, que terá uma segunda oportunidade de viver plenamente no local.

Alguns investigadores e pensadores vão mais longe, afirmando que o rewilding é a peça que faltava nos esforços de restauração, onde a conservação fica aquém, repovoando florestas praticamente vazias com  espécies-chave que já não habitam aquele território. A reintrodução de lobos em Yellowstone é talvez o exemplo mais famoso de como a reintrodução de uma espécie outrora perseguida, sobretudo por ser "top of the chair", pode ter efeitos extremamente benéficos no reequilíbrio da biodiversidade e na resiliência/força desse ecossistema - ver, a propósito, a Ted Talk, For more wonder, rewild the world:

Conte-nos mais sobre a solução proposta para o projeto, como ela funcionará?

O Projeto WINGS na RPPN Avá-Canoeiro é um projeto que visa estruturar um Centro de Soltura para Animais Silvestres que foram reabilitados pelos Centros de Triagem do CETAS ou IBAMA. São animais que foram vítimas de tráfico ilegal, atropelamentos ou agressões diversas e que, após tratamento que varia de um ou dois meses a alguns anos, tornaram-se aptos a serem reintroduzidos em seu habitat natural, pois conseguem se alimentar e cuidar de si mesmos sem a necessidade de ajuda humana. Alguns animais nunca poderão voltar a viver na natureza e quando as chances de sobreviverem na natureza são mínimas, devido a seqüelas ou porque os animais são acostumados ao homem, por exemplo, o IBAMA não autoriza a soltura e eles continuam a viver em cativeiro para sempre.

A equipe da RPPN Avá-Canoeiro já conseguiu recursos para construir um recinto para mamíferos de 740m2 e um recinto para aves/psitacídeos de 400m2. No momento, também estamos comprando uma cerca eletrificada para o recinto dos mamíferos, para dar segurança aos animais que ficarão ali em aclimatação (para evitar que animais como onças tentem fugir do recinto, por exemplo) e também para receber os animais que sobem nas telas - onças e tamanduás.

Outro fator é que o tratador/caseiro que alimenta e cuida dos animais está morando em uma barraca improvisada, e é importante que sejam disponibilizadas melhores instalações para ele, além de uma despensa e um frigorífico para armazenar a comida dos animais.

Já temos o projeto arquitetônico da casa do caseiro, bem como de um ambulatório (que pretendemos construir quando estivermos prontos, em dois ou três anos, para passar de ASAS para CETAS, o que exigiria a contratação de um veterinário e um auxiliar para realizar as reabilitações e cirurgias menos complexas que os animais necessitam, desafogando os CETAS do IBAMA, que atualmente estão lotados de animais).

As plantas arquitetônicas foram gentilmente doadas pela Simbiose Arquitetura/Arquiteto Bruno Ferreira.

Na semana passada, soltamos um lobo-guará macho e estamos prestes a receber um casal de antas e outra loba-guará fêmea.

Quais serão as principais atividades do projeto e como os recursos da doação serão aplicados?

A principal atividade do projeto é receber animais saudáveis dos CETAS de Goiânia e Brasília, que deverão cumprir um período variável de reabilitação e aclimatação em recintos antes de serem soltos. Durante esse período, os animais devem ser alimentados adequadamente, vigiados e monitorados posteriormente, após a soltura, por meio de GPS ou coleira VHF. O monitoramento é feito com o apoio do CETAS/Instituto Floresta Cheia/Time de Conservação dos Mamíferos da Chapada dos Veadeiros/UNB. A região do entorno do ASAS da RPPN Avá-Canoeiro é considerada excelente para receber indivíduos reabilitados devido ao excelente estado de conservação do seu entorno, à proximidade com o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e à sua alta capacidade de suporte, além do fato de ser uma região pouco habitada.

Os recursos serão utilizados exclusivamente para a construção de uma pequena residência para um caseiro, com copa e geladeira para armazenar alimentos para os animais. A casa do caseiro terá 40m2 e será construída com materiais acessíveis, como tijolos de eucalipto/adobe/argila ou telhas americanas, entre outros materiais.